segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Minhas lágrimas mancharam seu livro...


"Minhas Lágrimas mancharam seu livro.

Não esperava me emocionar com o livro Pinóquio do Asfalto como emocionei. Sempre olhei para esses meninos como errantes, pequenos delinquentes. Para mim eles representavam um passado torto, um presente alienado e um futuro drogado. O mais triste é que eu me deixava levar pela opinião dos outros, pela ótica passada pela imprensa que se delicia com desgraças e se embebedam da fonte das desgraças. Como somos reféns dessa mídia canibal.
Pinóquio do Asfalto mexeu com o meu eu, com o meu conformismo, com a minha apatia. Terminei de ler o livro no dia sete de setembro, mas ele incorporou em meu corpo como se fosse uma segunda alma, tanto que no final de semana, decidi sair para olhar para as crianças pelo centro de São Paulo como almas que vagam pelas sombras, filhos da marginalidade não herdada, mas imposta por nós e vi, que elas também brincavam, mesmo perdidas na imundice, brincavam com as coisas mais simplórias, mas também vi quanto elas eram indesejáveis para muitos que circulavam pela nossa cidade. Meu coração cortou quando vi um comerciante chutar uma delas só porque estava brincando diante de seu bar imundo. Elas saíram dali da mesma forma que um cão que comia restos de alimentos que os clientes do boteco jogavam. Naquela noite não consegui dormir.
No dia seguinte fiz uma faxina para pôr fora as inutilidades que tenho em casa. Eu tinha roupas da época que meus filhos eram crianças, ali, entulhadas nos guarda-roupas, ganhando mofo e, quem sabe, servindo de banquete para traças. Coloquei tudo para lavar, sequei, passei e guardei em caixas das mais diversas, depois embrulhei com papel bem bonito e amarrei um laço rosa para meninas e azul para meninos. Na noite da segunda-feira, fui com meu marido caminhar pelo centro com as caixas de presentes e, cada criança que eu via, parávamos e dávamos a roupa e um cachorro-quente muito gostoso que eu e meu marido preparamos. No final, sentamos na rua para comer e conversar com essas crianças. Sim, elas são crianças que sonham serem meninos de verdade.
Parabéns, professor Egidio, sem demagogia, o senhor merecia um reconhecimento social por suas obras. Se eu fosse o prefeito desta cidade eu te daria uma medalha de honra ao mérito."


Mariana e Carlos Souza

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